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quarta-feira, 8 de março de 2006

A Máquina Infernal...


A Máquina Infernal é daquelas coisas que ainda me dá muito alento para enfrentar o dia-a-dia, cada vez que se ouve aquele som do "vais voar!" ou pura e simplesmente o ouvir do seu ronco quando sobrevoa o espaço em que me encontro algo se revolta e o desejo de estar nas nuvens urge!

Hoje tive o privilégio e o prazer de, passados 2 anos e quase um mês, voltar a voar solo no Chipmunk Mk20.

Chegado à esquadra de voo da Academia da Força Aérea (Esquadra 802), ver o planeamento. Dois voos, o primeiro: Chip com o número de cauda 01315, callsign: Águia52, LF (Lugar da Frente): CadAl PilAv D. Bento, LT (Lugar de Trás): COR Poêjo, ETD (Estimated Time of Departure): 14h30, ETE (Estimated Time Enroute): 00h30, Zona: Circuitos.
O segundo: Chip com o número de cauda 01315, callsign: Filhote52, LF: D. Bento, LT: n/a, ETD: 15h00, ETE: 01h00, Zona: Circuitos.

Algo começa a borbulhar cá dentro, de um lado o desejo misturado com o sonho e prazer, do outro o peso da responsabilidade e os riscos que isso implica.

Eis que chega o instrutor à esquadra, faz-se o briefing, acertam-se alguns pormenores relativos ao circuito de aterragem e traça-se o perfil da missão. O vento não dava certezas de nada, oscilava entre valores que não levantam problemas e outros para os quais o Chipmunk não pode voar só com um tripulante. "Vamos voar e depois logo se vê se dá ou não para o segundo voo."

Chegados à linha da frente, é tempo de verificar nos livros do avião que está tudo OK, ir ao cacifo buscar o capacete e as luvas de voo, pegar num pára-quedas e dirigimo-nos para a fera.
Inspecção geral, interior e exterior é feita enquanto o instrutor se prepara e dirige para o avião. Todos os pormenores são expedita e seriamente analisados com a ajuda do checklist.

A inspecção está feita, o instrutor já chegou, monta-se a fera...

Procedimentos atrás de procedimentos e finalmente faz-se sinal ao mecânico que se vai por o motor em marcha. Tudo preparado, carrega-se no starter e eis que o animal acorda com um ronco que intimida qualquer um ao seu redor. Contacta-se a torre e estamos autorizados a taxiar até à posição de espera para a pista 32.

Feito o teste ao motor, a torre dá-nos autorização para alinhar e descolar, "Águia 52, cleared to take-off"... motor a fundo, o animal começa a soltar-se e a roda de cauda levanta. Tudo parece diferente. A velocidade aumenta, temos 60kts, e com jeitinho deixamos que o avião vá para onde nasceu para estar, airborne!

Primeiro circuito e tudo parece estar a correr bem... as primeiras aterragens são seguras.
Até que num circuito me passa pela cabeça que há imenso tempo que não faço um borrego (aborto à aterragem). Nem tarde nem cedo, chegando à altura de arredondar o vento sopra mais forte, o avião revolta-se e pede para se afastar do chão. Como sempre me disseram que "mais vale um bom borrego que uma má aterragem", sem hesitar, "gazoskopus", "Sintra, Águia 52, On the go" e aqui vamos nós outra vez para mais um circuito, o próximo vai ser melhor de certeza. Assim foi, sem percalços a aterragem foi efectuada!
Circuito sem flaps... O vento continua variável. Straight In... Vento variável. Break Out for Training... O voo já vai em quase 01h00 e o vento continua variável. No entanto, andava sempre quase enfiado com a pista e estava com tendência a, no máximo, ficar no limite para voo solo.

Finalmente dá-se a decisão, o instrutor vai deixar o avião e mandar-me lá para cima sozinho, se o vento se mantiver dentro dos limites. O nível de adrenalina sobe exponencialmente! Não só por ir poder fazer uma coisa que adoro e ser uma sensação extraordinária poder fazê-lo sozinho, mas também por sentir a confiança por parte do instrutor em deixar o avião nas minhas mãos e apenas nas minhas mãos.

Depois de amarrados os cintos do lugar de trás, tudo a postos e volto a falar com a torre, mas desta vez de maneira diferente e, ao estar pronto para a descolagem digo "Sintra Tower, Filhote 52, ready for departure". A ansiedade aumenta enquanto tenho de esperar por um FTB na final e um outro Chipmunk que o seguia, ambos para aterrar. Depois de a pista estar novamente livre ouve-se finalmente no rádio "Filhote 52, Line Up and Wait" seguido de um "Filhote 52, Cleared for Take-Off"

Finalmente, volto a sentir a fera sob o meu poder, sem mais ninguém a acompanhar...
Enquanto, na Torre o instrutor agora me segue atentamente com os olhos e se mantém atento em relação às alterações do vento, eu sigo pelo circuito de aterragem com aquela sensação de poder, responsabilidade e satisfação.

Falando e cantando em voz alta sozinho, lendo os procedimentos como se o instrutor lá estivesse a ouvir o que estava a dizer e a explicar o voo a mim próprio, o voo corre dentro das normalidades.

5 aterragens e mais um circuito em que, devido a um Aviocar em Straight In a 1.5 milhas, para aterrar, me vi obrigado a sair do circuito, com um Break Out em direcção a Lourel, ponto de entrada no circuito.

Como dizem, não há vez como a primeira, mas voar é sempre como se uma primeira vez se tratasse, é sempre diferente, emocionante. E sabe tão bem, ao fim da tarde, chegar à placa estacionar o avião, cortar o motor, desmontar a fera e, pegando na Checklist, olhar para a Máquina Infernal que é o Chipmunk e pensar...

"Missão cumprida! Até à próxima, amigo..."
(cedo, espera-se)

3 comentários:

Anónimo disse...

PARABENS BRO. AINDA ME DEVES UMA VOLTINHA NUM PLANADOR! RC

Anónimo disse...

Dizzy, I'm so dizzy...
My head is spinning
Like a whirlpool
It never ends
And it's you
Making it spin
You're making me dizzy...

sweet kiss
dreams

Anónimo disse...

Conseguiste demonstrar por palavras o k sentiste. Vê-s k o fizeste por gosto :) Parabens!