Google

quarta-feira, 2 de abril de 2008

"Olá, que idade tens?"

Sempre tive uma maneira de ver as coisas ligeiramente diferente. Vista por muito boa gente como um desejo ou prazer em ser do contra. O que nem sempre é uma ideia muito longe da realidade. Confesso, gosto de discutir, mesmo que para isso tenha de, por vezes, defender o outro lado, só mesmo para não estar de acordo. Mas nem sempre é esse o caso. Acontece ser mesmo uma forma diferente de ver as coisas. Por exemplo, quantas vezes não oiço dizer que "a vida é difícil" e, ao ouvir isto, cerca de 69% das vezes não concordo. No meu entender, a vida é fácil. Demasiado fácil até, tão fácil que se torna fácil complicá-la.

Como podemos então complicar uma vida supostamente tão simples? Tantas e tantas formas de o fazer dão à costa no meu pensamento mas, já que falo de simplicidade, vejamos algo básico na nossa vida. Falo de "regras" de moral e conduta social. Fáceis? Talvez. Simples? Nem por isso. Mas ter de ser algo fácil, se assim não fosse com certeza que não haveria tantas diferenças morais entre as várias culturas. Posto isto, vendo que o que é correcto na areia da praia em que me sento pode estar completamente errado na areia de uma praia da Turquia, quem pode dizer em absoluto o que é correcto ou errado? Como pode a Bíblia de um ser mais correcta que o Alcorão de um outro? Não sei responder a estas perguntas, mas uma coisa é certa, é fácil julgar os actos de outrem. Tão fácil que depois se torna complicado saber o que é certo ou não.

Pode alguém, condenar o casamento de uma mulher com 2 homens, por exemplo? Claramente pode-se criticar, mas e se ela amar os 2? Se ambos os homens a amarem a ela e, para além disso, se amarem entre si? Será certo alguém privar estas 3 almas enamoradas de se amarem e constituírem um lar só porque se tomou a liberdade fácil de dizer que o amor é algo que se faz e sente aos pares? Tenho curiosidade de saber onde diz que tal está errado. Sem interpretações nem segundos sentidos, onde está escrito que o amor é algo que só se pode sentir a dois? E se realmente alguém escreveu tal absurdo, quem lhe deu o direito de o fazer?

Na mesma ordem de ideias, ouve-se aqui e ali "o amor é cego, surdo e mudo" e ninguém condena tal pensamento. Mas, sendo o amor cego, como pode alguém distinguir as rugas na cara de outro? Sendo o amor surdo, como pode alguém ouvir e perder-se nas palavras de um ser sábio e experiente? Sendo o amor mudo, como pode alguém fazer-se ouvir com a sua voz de criança? Façam estas 3 perguntas em todas as possíveis conjugações de perspectivas. Será alguém com apenas 16 anos suficientemente maduro para (dependendo dos países) beber álcool, fumar ou conduzir? E com 21 anos, é-se suficientemente maduro para conduzir um motociclo super-desportivo? E com 25 anos, será alguém suficientemente maduro para poder tomar todas as decisões por si próprio? Ou só aos 35? Por vezes penso que talvez não seja má ideia passar a dizer "Olá, que idade tens?" em vez de saber o nome da pessoa em questão. Ao que parece, é mais fácil olhar para um idade e julgar de imediato do que a pura simplicidade de ver uma cara, ou coração.

Sendo tão fácil olhar a idades, torna-se complicado saber qual a idade certa. Se beber, fumar e conduzir são actos sociais, era de supor que alguém com 16 anos tivesse capacidade para viver com outros. E parece-me que alguém, para conseguir viver com outros, tenha de saber viver consigo próprio e conhecer-se a vários níveis. Assim, pode alguém impedir uma pessoa de 16 anos de se apaixonar ou de amar alguém? Não. No entanto, esse alguém pode ter também 16 anos, mas também pode ter 21. Se realmente tiver 21, é certo que vai haver alguém a condenar, mas até se pode achar piada e, de certa forma, normal a paixão por alguém mais velho. Mas o contrário também pode acontecer e aí duvido que haja quem ache a sua piada. Mas não sei quem pode julgar o amor entre duas pessoas com 5 anos de diferença. E quem diz 5, diz 6 ou 9, poderiam até ser 10 anos.

Tenho uma necessidade imensa de encontrar o sítio onde alguém ou algo gravou a fórmula para saber quando a diferença de idades é excessiva ou não. Infelizmente, já me cruzei com muitas pessoas que aparentam ter a sua idade ou até mais e, na verdade, o corpo cresceu mas a mentalidade tem menos uns anos do que diz no B.I.. Paralelamente, há quem, por motivos melhores ou piores, cresceram mais depressa do que o seu corpo conseguiu acompanhar. Será menos condenável se a pessoa de 16 anos já pensar como se tivesse 20 e a de 21 pensar como se ainda tivesse 19? Ou por outro lado, se se aumentar a diferença de idades mas o mais novo for mais velho que na situação anterior. Considere-se uma pessoa de 17 anos e outra de 27. Será esta situação menos condenável? Certamente que a grande maioria das pessoas achará errado uma relação entre pessoas de 17 e 27 anos, mas haverá menos a recriminar uma de 30 e 40. Pergunto-me, a partir de que idade é que diferenças de mentalidade deixam de impedir uma relação amorosa? Porque, se voltar ao caso dos 16 e 21 anos e lhes somar 13 anos, duvido que alguém tenha algo a dizer sobre uma relação entre alguém de 29 anos e um outro alguém de 34. E a pergunta que faço é, se estes jovens realmente se amaram quando tinham 16 e 21 anos, porquê ter de esperar 10 ou 15 anos para serem aceites na sua própria sociedade ou até mesmo na sua família?

Estou certo que um qualquer psicólogo me faria o favor de falar de um conjunto infindável de motivos e justificações para alguém se apaixonar por uma pessoa mais nova ou mais velha. Estou certo também que de entre recessões, fixações, estágios incompletos e afins, algumas das suas palavras me iam convencer, mas não é isso que procuro. Isso seria admitir que estava algo de errado. O que quero é procurar o lado simples, puro e bonito das coisas e sentimentos. Entre estes encontra-se o amor e as relações entre nós, cidadãos do mundo. Deve haver algo mais com que nos possamos entreter do que pegar nas coisas simples e, rendendo-nos à sua simplicidade, cair na tentação de as complicar.

"Olá, tenho a suficiente para me sentir uma pessoa e gostar do sorriso do teu olhar..."